Querida Marília, dia 4 de Abril, é o seu dia.

Cerca de vinte anos depois da fundação da cidade de Marília eu nasci na Maternidade Bento de Abreu Sampaio Vidal. Meus pais haviam fugido da Polônia onde pouco tempo antes ocorreu a invasão nazista. Vieram para o Brasil e se conheceram em São Paulo. Casaram-se e foram morar numa terra longínqua, numa cidade recém-fundada onde se chegava através da Companhia Paulista de estradas de ferro. A minha infância em Marília foi simplesmente maravilhosa. Enquanto meu pai lutava para garantir a nossa sobrevivência, vendendo roupas de casa em casa, eu passeava de bicicleta, soltava pipas, nadava em “corgo”, assistia aos treinos do São Bento FC, pescava no Rio do Peixe, trocava “gibis” nas matinés do Cine Marilia, assistia na Radio Clube os programas com o Joaquim Sabonetão Dias e ia com meus amiguinhos caçar no “buracão”.

Porém uma das atividades que mais apreciava era frequentar o Yara Clube. Aprendi a nadar nesse templo da natação e convivi com Fausto Alonso, nadei com Nakamura e tantos outros. Mas foi uma glória poder ter nadado com Tetsuo Okamoto, campeão olímpico de natação na Finlândia. Aos domingos ainda quando criança meu pai se trajava com um terno branco, minha mãe com um vestido elegante e eu também com uma roupinha toda especial, íamos passear na avenida Sampaio Vidal, na praça de São Bento, tomar uma laranjada na sorveteria Rex e comer um sonho na Tartaruga. Alguns anos depois, com o nascimento de meu irmão David, passeando juntos, soube que as pessoas comentavam: “que família linda com pessoas tão maravilhosas”. Eram comentários bem diferentes das manifestações antissemitas e nazistas que aconteciam na Polônia. Na verdade não entendia bem o que era ser judeu pois na cidade de Marília todos conviviam como irmãos: japoneses, sírios, libaneses, judeus, espanhóis, italianos… Todos lutando em prol de uma vida digna, com liberdade, prosperidade, num lugar onde seus filhos pudessem ter um futuro promissor e bem diferente do que estava acontecendo na Polônia.

Muitos imigrantes da pequena comunidade israelita de Marilia, assim como de outras, conseguiram ver seus filhos se graduar em Medicina, Engenharia, Direito, etc. Marília, para essas comunidades não foi só a terra de amor e de liberdade. Marília, a minha querida e eterna cidade menina, foi a terra de integração e tolerância. Sou eternamente grato a você minha querida Marília. As lembranças de minha infância, estão muito vivas e fazem aflorar emoções muito fortes.

Parabéns Marilia, 94 anos, cidade menina, uma verdadeira terra de gigantes 

Elias Knobel

Divulgação oficial:

https://marilia94anos.com.br/